A neurofisiologia da ansiedade
- Carla Campos

- 13 de out.
- 3 min de leitura
Atualizado: 14 de out.
A base neurobiológica da ansiedade
A ansiedade é uma resposta fisiológica adaptativa do cérebro diante de situações de ameaça, incerteza ou mudança. Em níveis moderados, ela é protetora, prepara o organismo para reagir e garantir a sobrevivência.
Porém, quando se torna crônica ou desregulada, transforma-se em sofrimento psíquico e corporal.
Essa reação é coordenada por um circuito neurofuncional que envolve principalmente:
Amígdala cerebral: estrutura do sistema límbico responsável por detectar o perigo e gerar respostas emocionais como medo e alerta.
Hipotálamo: centro de integração entre sistema nervoso e endócrino; ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA).
Córtex pré-frontal: região associada ao raciocínio e ao controle emocional; tenta regular a amígdala. Quando há ansiedade intensa, o córtex perde essa capacidade de modulação.
Hippocampo: relacionado à memória contextual; em estresse prolongado, pode ter seu volume reduzido, prejudicando a capacidade de diferenciar ameaças reais de imaginárias.
A ansiedade, portanto, é o resultado de um desequilíbrio entre o sistema de alerta (amígdala) e o sistema de regulação racional (córtex pré-frontal).
2. O eixo do estresse: cérebro, hormônios e corpo
Quando a amígdala percebe uma ameaça, o hipotálamo envia um sinal à hipófise e às glândulas suprarrenais, ativando o eixo HHA. Esse eixo libera hormônios de estresse, como adrenalina e cortisol.
Fases da resposta ao estresse:
Alerta: aumento imediato de adrenalina, acelera o coração e a respiração, dilata pupilas e prepara os músculos.
Resistência: o corpo tenta manter o equilíbrio, mas com altos níveis de cortisol.
Exaustão: se o estímulo persiste, ocorre sobrecarga no sistema nervoso e imunológico.
O cortisol, em doses adequadas, é essencial para o metabolismo e a energia.Porém, quando cronicamente elevado, passa de protetor a tóxico, danifica neurônios, desregula o sistema imunológico e altera neurotransmissores como serotonina, dopamina e GABA.
3. O impacto da ansiedade crônica sobre o sistema imunológico
O sistema imunológico é altamente sensível às emoções.O cérebro e o sistema imune se comunicam por meio de mensageiros químicos chamados citoquinas, neurotransmissores e hormônios. Essa interação é o objeto de estudo da Psiconeuroimunologia (PNI).
Quando há equilíbrio:
O corpo produz citoquinas anti-inflamatórias (como IL-10).
O cortisol modula a imunidade sem suprimi-la.
As células de defesa (linfócitos e macrófagos) funcionam adequadamente.
Quando há ansiedade crônica:
O eixo HHA fica hiperativado.
A produção contínua de cortisol leva à imunossupressão.
O corpo aumenta citoquinas pró-inflamatórias (IL-1, IL-6, TNF-α), associadas a doenças autoimunes e inflamatórias.
Há redução na atividade de linfócitos T e células NK (natural killers), comprometendo a defesa contra vírus e tumores.
Essas alterações explicam por que pessoas com ansiedade e estresse prolongados tendem a apresentar:
maior propensão a infecções;
pior recuperação pós-cirúrgica;
dores musculares e distúrbios gastrointestinais;
exacerbação de doenças autoimunes;
fadiga, insônia e sintomas psíquicos recorrentes.
4. O papel da neuroplasticidade e da espiritualidade na regulação
A boa notícia é que o cérebro é plástico: ele pode se reorganizar e criar novas conexões neurais, reduzindo a hiperatividade da amígdala e fortalecendo o córtex pré-frontal, processo facilitado por práticas terapêuticas e espirituais integrativas.
Práticas que modulam o sistema nervoso e imunológico:
Mindfulness Cristão e oração contemplativa: reduzem a ativação do eixo HHA, diminuindo o cortisol e aumentando serotonina e endorfinas.
Gratidão e compaixão: promovem liberação de dopamina e ocitocina, fortalecendo a resposta imune.
Respiração diafragmática e relaxamento muscular: ativam o nervo vago, estimulando o sistema parassimpático e restaurando o equilíbrio fisiológico.
Contato com a natureza (Ecoterapia): regula a pressão arterial, aumenta imunoglobulina A (IgA) e reduz marcadores inflamatórios.
5. Síntese integrativa
SISTEMA | DESEQUILÍBRIO (ansiedade crônica) | RESTAURAÇÃO (serenidade) |
Nervoso | Amígdala hiperativa, pré-frontal hipoativo | Neuroplasticidade, autorregulação e mindfulness |
Endócrino | Liberação excessiva de cortisol | Equilíbrio do eixo HHA, aumento de endorfinas |
Imunológico | Inflamação sistêmica e imunossupressão | Aumento de citoquinas anti-inflamatórias |
Espiritual | Desconexão de propósito e transcendência | Sentido existencial, oração, paz interior |
“A serenidade é uma resposta neurofisiológica de harmonia entre o sistema nervoso e o sistema imune. Quando a alma encontra paz, o corpo obedece.” (Carla Campos)


Comentários