O prazer dos jogos online
- Carla Campos

- 13 de out.
- 3 min de leitura
1. Compreendendo o prazer e a resposta do cérebro. O sistema dopaminérgico e o circuito de recompensa
A dopamina é um neurotransmissor central no sistema de recompensa cerebral, responsável por gerar sensações de prazer, motivação e reforço.Esse sistema é mediado por uma rede que envolve:
Área tegmentar ventral (VTA) – origina neurônios dopaminérgicos;
Núcleo accumbens – estrutura do sistema límbico que processa prazer e recompensa;
Córtex pré-frontal – regula decisões, autocontrole e planejamento.
Em condições equilibradas, o cérebro libera dopamina em pequenas doses diante de conquistas, interações sociais, aprendizado e espiritualidade, criando uma sensação saudável de satisfação.
Quando o prazer vem do propósito e da conexão gerada por vínculos humanos, a dopamina atua em harmonia com a serotonina e a ocitocina, sustentando serenidade e bem-estar.
2. O que acontece com o uso excessivo da internet e jogos digitais
A internet, redes sociais e jogos online estimulam intensamente esse circuito de recompensa, mas de forma artificial, instantânea e repetitiva.
Cada curtida, notificação, conquista em jogo ou vídeo curto ativa a liberação de dopamina, criando picos rápidos de prazer seguidos por quedas abruptas.Com o tempo, o cérebro se adapta e passa a exigir estímulos cada vez mais intensos para alcançar o mesmo nível de satisfação, um fenômeno chamado tolerância dopaminérgica.
Principais mecanismos neurofisiológicos:
Dessensibilização dopaminérgica: os receptores D2 no núcleo accumbens diminuem em quantidade e sensibilidade.
Hipoatividade do córtex pré-frontal: reduz-se o controle inibitório, dificultando resistir a impulsos e regular emoções.
Hiperatividade do sistema límbico: o cérebro busca prazer imediato e foge de desconforto, gerando impulsividade e procrastinação.
Redução da serotonina: diminui a estabilidade emocional, o foco e a sensação de contentamento.
Esse ciclo neuroquímico é semelhante ao de dependências comportamentais, como jogo patológico, compras compulsivas ou vício em pornografia ou drogas.
3. Efeitos fisiológicos e psicológicos da dopamina digital
O consumo excessivo de estímulos digitais altera profundamente o funcionamento mental e corporal. Entre os principais impactos observados estão:
No cérebro:
Redução da massa cinzenta no córtex pré-frontal (autorregulação e julgamento moral).
Aumento da reatividade da amígdala, intensificando ansiedade e reatividade emocional.
Redução da conectividade no cíngulo anterior, área responsável pela empatia e tomada de decisão.
Liberação irregular de dopamina e glutamato, criando oscilações de humor e sensação de vazio quando offline.
No corpo:
Aumento de cortisol e adrenalina, mesmo sem ameaça real.
Distúrbios de sono (redução da melatonina e alteração do ritmo circadiano).
Fadiga mental e dores tensionais associadas à hiperconectividade.
No comportamento:
Dificuldade em sustentar atenção prolongada (atenção fragmentada).
Intolerância ao tédio e busca constante de estímulos.
Redução da criatividade e da introspecção.
Enfraquecimento das experiências de prazer natural (comer, conversar, orar, contemplar).
“O vício dopaminérgico da era digital substitui o silêncio curativo da alma por um ruído constante que esgota o cérebro.” (Carla Campos)
4. A relação entre dopamina e espiritualidade
A dopamina também está envolvida nas experiências de transcendência. Pesquisas em neurociência espiritual (Newberg, 2018) mostram que a oração, a gratidão e a contemplação ativam áreas similares ao circuito de recompensa, mas de modo equilibrado e duradouro.
Enquanto os estímulos digitais geram picos curtos e superficiais, as práticas espirituais produzem padrões estáveis de dopamina e serotonina, associados a contentamento, fé e serenidade.
Comparativo:
Tipo de estímulo | Efeito neuroquímico | Resultado emocional |
Jogos/redes sociais | Picos rápidos de dopamina e queda abrupta | Excitação seguida de ansiedade e vazio |
Mindfulness Cristão / Oração / EcoTerapia | Liberação equilibrada de dopamina + serotonina + ocitocina | Paz, foco e satisfação profunda |
5. Estratégias terapêuticas para restaurar o equilíbrio dopaminérgico
Desintoxicação digital gradual: reduzir horários e estímulos digitais para permitir a recuperação dos receptores dopaminérgicos.
Mindfulness Cristão e práticas de serenidade: reduzem cortisol, equilibram dopamina e aumentam GABA.
Exposição à natureza (Ecoterapia): ativa o sistema parassimpático, melhora o humor e estimula dopamina de forma orgânica.
Sono restaurador e alimentação rica em tirosina (precursor da dopamina): como banana, aveia, grão-de-bico e sementes.
Vivências de propósito e fé: redirecionam o circuito de recompensa para o significado, e não apenas para o prazer gerado.


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